No Norte da Síria,
palco de intensos combates entre as forças do regime de Bashar al-Assad e
rebeldes, nem mesmo a guerra impede moradores de acompanharem a Copa do Mundo
no Brasil. Na província de Raqa, bastião do Estado Islâmico do Iraque e da
Síria (Isis), grupo dissidente da al-Qaeda, jovens desafiaram bombardeios e a
sexta-feira (13) da ira de extremistas para assistir ao jogo entre a Espanha e
a Holanda.
“Membros do Isis
entraram nas cafeterias no primeiro dia do Mundial e forçaram os jovens a
rezarem. Eles disseram que o futebol distanciava as nossas almas de Deus”,
disse à AFP, via internet, Abu Ibrahim, que preferiu não citar seu verdadeiro
nome por motivos segurança. “Assisti ao jogo na sexta-feira na casa de um
amigo. Estávamos tão preocupados que tivemos o cuidado de não gritar na hora
dos gols”.
Fã da seleção brasileira, Abu Ibrahim é um dos poucos que
se atreve a falar com a imprensa de sua oposição ao Isis, grupo responsável
pela invasão de várias cidades iraquianas na última semana, acusado de
sequestros e execuções sumárias. “Eles querem que tudo seja triste. Mas
eu gosto da vida, gosto de futebol”, afirmou.
No Facebook, ele brincou sobre o massacre holandês, que
venceu a Espanha por 5 a 1, fazendo uma referência à situação no Iraque. “A
Holanda varreu a Espanha, assim como o Isis invadiu o Iraque”, postou.
Perto da capital Damasco, na região rebelde de Moadamiyat
al-Sham, um voluntário em um hospital também tenta não perder os jogos. “Éramos
seis em casa para ver a Espanha e a Holanda. Mas, como na oposição síria, cada
um defendia uma equipe”, disse o voluntário, referindo-se aos opositores do
regime sírio, profundamente divididos.
Moadamiyat al-Sham era um reduto rebelde, mas depois de
um longo cerco, assinou uma trégua com o regime. Desde o início do Mundial, os
campos que outrora foram locais de combates agora estão ocupados por telões
para os jogos, dando um pouco de vida a uma região devastada pela guerra.
Na província de Idleb, no Noroeste do país, cuja maioria
do território está nas mãos dos rebeldes e é diariamente bombardeado pelos
militares, Ibrahim al Idlebi veste sua camisa com as cores da Espanha e bebe
mate enquanto vê o jogo. “Fazemos de tudo para esquecer os bombardeios e a
morte”, disse à AFP, pela internet.
Nas áreas rebeldes da província de Latakia, também no Noroeste,
as pessoas se amontoavam em pequenas telas em abrigos. “As pessoas se sentem
mais seguras assistindo aos jogos nos abrigos. Há de tudo: crianças, jovens e
rebeldes”, contou Omar el Jeblawi.
Fonte: O Globo
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