Um relatório da ANEEL (Agência Nacional
de Energia Elétrica) publicado a apenas 108 dias da Copa do Mundo aponta risco
de falha na distribuição de energia elétrica em pelo menos três estádios: os de
Curitiba, Manaus e Porto Alegre.
A agência tem um
papel de supervisora e reguladora do setor energético no país. Denominado “Nota Técnica
número 14/2014“, seu relatório do dia 24 de fevereiro analisa as
obras de energia nas 12 sedes do torneio. Afirma que “a maioria dos atrasos
observados na implantação das obras de distribuição de energia elétrica não
oferece, neste momento, risco à confiabilidade proposta para o abastecimento de
energia para a Copa de 2014″.
Note-se o fraseado cauteloso: “a
maioria” dos atrasos não oferece “neste momento” risco. Ora, se a maioria não
oferece agora, isso significa que algum atraso oferece, sim, risco: se não
neste, em algum outro momento. Que riscos seriam esses, e em que momento? O
documento prossegue fazendo três observações.
A primeira, e mais preocupante, diz
respeito ao abastecimento do Beira Rio. Segundo o documento, “a subestação
Menino Deus, a principal fonte de alimentação da arena de Porto Alegre, está
com apenas 58% das obras civis e 10% da montagem realizadas, com previsão de
conclusão em abril de 2014″. A data é considerada “muito próxima ao evento”, e
sem a subestação não será possível atender “os padrões exigidos pela FIFA para
a realização dos jogos”. De acordo com a nota, não é possível “acomodar mais
nenhum atraso” nesta obra, devido à necessidade de testes.
A segunda ressalva se refere à Copel
Distribuição (COPEL-D), do Paraná. De acordo com a nota, as três linhas que
abastecem a Arena da Baixada estão com as obras atrasadas, com conclusão
prevista para este mês de abril.
A terceira trata
da Eletrobras Amazonas Energia (AmE). Segundo o relatório, a fragilidade se
encontra na ampliação da subestação de Seringal-Mirim, ainda “na lista de
pendências”, com conclusão prevista para março de 2014. “É exíguo o prazo para
conclusão e testes”, diz a nota técnica da ANEEL. Uma notícia no
site da AmE, datada de 13 de março, dá como finalizada a
ampliação. Sem Seringal-Mirim, o estádio ficaria dependente de uma única
subestação, a de Redenção, aumentando o risco de um apagão.
Outra questão
importante em Manaus é a confiabilidade da interligação entre a cidade e a
hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins. Esta interligação é frágil, e o
relatório da ANEEL avalia que é necessário reforçá-la para a Copa inaugurando
uma nova subestação, no bairro de Jorge Teixeira. Na nota técnica da ANEEL, a
previsão para esta inauguração era fevereiro. Em um documento
mais recente, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, o
órgão coordenador da distribuição de energia no país), datado de 14 de março, a
previsão já passara para abril.
Além disso, em outras três arenas (Belo
Horizonte, Cuiabá e Salvador) ainda havia obras de abastecimento de energia
atrasadas, algumas delas com prazo de conclusão revisado para maio – a apenas
um mês do mundial.
A nota técnica da
ANEEL se baseia em informações fornecidas em 10 de janeiro pelas doze
distribuidoras envolvidas com as cidades-sedes. Esse acompanhamento é feito
desde 2011. Ao longo desse período, foi emitida uma série de “notas técnicas”,
todas relatando atrasos, mudanças de planos e cronogramas. Ao longo desse
período, Porto Alegre sempre foi problemática. Uma nota técnica de junho de 2012 chegou a afirmar que “a situação das
obras, necessárias à garantia de fornecimento de energia em Porto Alegre na
Copa de 2014, causa preocupação e pode comprometer o abastecimento da cidade.”
A nota técnica deste ano é menos alarmista, mas nem por isso deixa de expressar
receio em relação à Copa.
O “padrão FIFA”
para a energia está documentado no manual “Estádios de Futebol – Recomendações e Requisitos Técnicos“,
calhamaço de 435 páginas. Um capítulo específico é dedicado à alimentação de
energia dos estádios. Em sua página 166, o livro qualifica de “inadmissível o
atraso ou cancelamento de um evento devido à falta de energia elétrica”. Quando
a rede de alimentação de energia é considerada “altamente não confiável”, a
FIFA recomenda o emprego de um número maior de geradores e UPS (sigla em inglês
para “fontes de alimentação ininterruptas”), uma espécie de “no-break” gigante.
Qual o risco real de um vexatório apagão
durante um jogo da Copa? O relatório da ANEEL não afirma de forma conclusiva.
Mas externa preocupação com a confiabilidade de um sistema que necessita de
redundância – ou seja, caso uma linha de transmissão caia, é preciso que haja
outra para suprir energia de imediato.
P.S.: Procurada
pelo blog, a ANEEL se manifestou afirmando: “As obras que constam nessa nota
técnica são referentes a exigências da FIFA para reforçar e auxiliar o sistema
de distribuição de energia já existente, portanto não são determinantes para o
funcionamento desse sistema.” A assessoria de comunicação acrescentou que a
próxima nota técnica sobre o tema está prevista para março, por serem elas
trimestrais.
Fonte: Sport Tv
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