quinta-feira, 3 de abril de 2014

Um relatório da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) publicado a apenas 108 dias da Copa do Mundo aponta risco de falha na distribuição de energia elétrica em pelo menos três estádios: os de Curitiba, Manaus e Porto Alegre.
A agência tem um papel de supervisora e reguladora do setor energético no país. Denominado “Nota Técnica número 14/2014“, seu relatório do dia 24 de fevereiro analisa as obras de energia nas 12 sedes do torneio. Afirma que “a maioria dos atrasos observados na implantação das obras de distribuição de energia elétrica não oferece, neste momento, risco à confiabilidade proposta para o abastecimento de energia para a Copa de 2014″.
Note-se o fraseado cauteloso: “a maioria” dos atrasos não oferece “neste momento” risco. Ora, se a maioria não oferece agora, isso significa que algum atraso oferece, sim, risco: se não neste, em algum outro momento. Que riscos seriam esses, e em que momento? O documento prossegue fazendo três observações.
A primeira, e mais preocupante, diz respeito ao abastecimento do Beira Rio. Segundo o documento, “a subestação Menino Deus, a principal fonte de alimentação da arena de Porto Alegre, está com apenas 58% das obras civis e 10% da montagem realizadas, com previsão de conclusão em abril de 2014″. A data é considerada “muito próxima ao evento”, e sem a subestação não será possível atender “os padrões exigidos pela FIFA para a realização dos jogos”. De acordo com a nota, não é possível “acomodar mais nenhum atraso” nesta obra, devido à necessidade de testes.
A segunda ressalva se refere à Copel Distribuição (COPEL-D), do Paraná. De acordo com a nota, as três linhas que abastecem a Arena da Baixada estão com as obras atrasadas, com conclusão prevista para este mês de abril.
A terceira trata da Eletrobras Amazonas Energia (AmE). Segundo o relatório, a fragilidade se encontra na ampliação da subestação de Seringal-Mirim, ainda “na lista de pendências”, com conclusão prevista para março de 2014. “É exíguo o prazo para conclusão e testes”, diz a nota técnica da ANEEL. Uma notícia no site da AmE, datada de 13 de março, dá como finalizada a ampliação. Sem Seringal-Mirim, o estádio ficaria dependente de uma única subestação, a de Redenção, aumentando o risco de um apagão.
Outra questão importante em Manaus é a confiabilidade da interligação entre a cidade e a hidrelétrica de Tucuruí, no rio Tocantins. Esta interligação é frágil, e o relatório da ANEEL avalia que é necessário reforçá-la para a Copa inaugurando uma nova subestação, no bairro de Jorge Teixeira. Na nota técnica da ANEEL, a previsão para esta inauguração era fevereiro. Em um documento mais recente, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS, o órgão coordenador da distribuição de energia no país), datado de 14 de março, a previsão já passara para abril.
Além disso, em outras três arenas (Belo Horizonte, Cuiabá e Salvador) ainda havia obras de abastecimento de energia atrasadas, algumas delas com prazo de conclusão revisado para maio – a apenas um mês do mundial.
A nota técnica da ANEEL se baseia em informações fornecidas em 10 de janeiro pelas doze distribuidoras envolvidas com as cidades-sedes. Esse acompanhamento é feito desde 2011. Ao longo desse período, foi emitida uma série de “notas técnicas”, todas relatando atrasos, mudanças de planos e cronogramas. Ao longo desse período, Porto Alegre sempre foi problemática. Uma nota técnica de junho de 2012 chegou a afirmar que “a situação das obras, necessárias à garantia de fornecimento de energia em Porto Alegre na Copa de 2014, causa preocupação e pode comprometer o abastecimento da cidade.” A nota técnica deste ano é menos alarmista, mas nem por isso deixa de expressar receio em relação à Copa.
O “padrão FIFA” para a energia está documentado no manual “Estádios de Futebol – Recomendações e Requisitos Técnicos“, calhamaço de 435 páginas. Um capítulo específico é dedicado à alimentação de energia dos estádios. Em sua página 166, o livro qualifica de “inadmissível o atraso ou cancelamento de um evento devido à falta de energia elétrica”. Quando a rede de alimentação de energia é considerada “altamente não confiável”, a FIFA recomenda o emprego de um número maior de geradores e UPS (sigla em inglês para “fontes de alimentação ininterruptas”), uma espécie de “no-break” gigante.
Qual o risco real de um vexatório apagão durante um jogo da Copa? O relatório da ANEEL não afirma de forma conclusiva. Mas externa preocupação com a confiabilidade de um sistema que necessita de redundância – ou seja, caso uma linha de transmissão caia, é preciso que haja outra para suprir energia de imediato.
P.S.: Procurada pelo blog, a ANEEL se manifestou afirmando: “As obras que constam nessa nota técnica são referentes a exigências da FIFA para reforçar e auxiliar o sistema de distribuição de energia já existente, portanto não são determinantes para o funcionamento desse sistema.” A assessoria de comunicação acrescentou que a próxima nota técnica sobre o tema está prevista para março, por serem elas trimestrais.


Fonte: Sport Tv

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